O escritor português José Saramago morreu em casa, na ilha espanhola de Lanzarote, na manhã desta sexta-feira, aos 87 anos. O português encontrava-se em estado estacionário, que se agravou nesta sexta-feira, causando a morte do autor por volta de 12h30 horário local, 7h horário de Brasília. A notícia foi confirmada pelo seu editor Zeferino Coelho, que afirmou que ele estava com pneumonia já há algum tempo, e que a doença havia se complicado por causa do lugar úmido que ele vivia.
Em entrevista à agência internacional "EFE" familiares de Saramago informaram que o autor lutava contra uma leucemia crônica. Ele havia passado bem a noite, mas se sentiu mal após o café da manhã.
No site oficial do escritor, uma nota informa que José Saramago por causa de uma "falha múltipla dos órgãos, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila".
O velório de Saramago acontece na tarde desta sexta-feira na cidade espanhola de Tiás, nas Ilhas Canárias, com cerimônia na biblioteca Tías. O enterro, ainda sem data para acontecer, será em Lisboa.
* ABL lamenta morte de Saramago
Último post
Na quinta-feira, Saramago fez o um último post em seu blog oficial. Com o título "Pensar, pensar", ele comentou sobre a falta de filosofia na sociedade atual.
"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma", escreveu.
Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008
Confira aqui o blog do autor.
OAB lamenta morte
Em nota, Ophir Cavalcante, presidente da Ordem Nacional dos Advogados do Brasil (OAB) lamentou a morte do escritor português José Saramago.
"Ao lado de Fernando Pessoa, Eça de Queiroz e Machado de Assis, José Saramago elevou a língua portuguesa ao seu merecido lugar dentre as marcantes manifestações culturais da Humanidade, ao receber, merecidamente, o Nobel de Literatura de 1998. Com sua erudição, simpatia e uma surpreendente prosa, Saramago cativou admiradores em todo o mundo, e no Brasil em particular, cuja irmandade linguistica não se limita ao além-mar, integrando povos em todos os continentes onde um dia aportaram naus portuguesas. As homenagens dos advogados brasileiros ao grande mestre."
'Sua perda é recebida com muita tristeza', diz Ministro da cultura do Brasil
Em nota oficial, Juca Ferreira, também lamentou a morte do português. "A sua perda é recebida com muita tristeza, particularmente pelos que têm apreço pela língua portuguesa e por sua importância cultural em tantos continentes. O Ministério da Cultura do Brasil se soma aos que lamentam e manifestam a dor pela perda desse grande escritor", diz a nota.
*Morte de Saramago ganha destaque no Twitter
Biografia
José Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922 em Azinhaga, Portugal. Escritor, roteirista, jornalista, dramaturgo e poeta português, Saramago ficou conhecido por seu estilo próprio, com frases e períodos longos e pontuação não convencional, com o romance "Levantando do chão" (1980), que retrata o conflito entre o povo e latifundiários, considerado um dos fundamentais pelos críticos.
Entre as obras mais famosas, está "Ensaio sobre a cegueira", publicada em 1995, e que chegou a ser adaptada para o cinema em 2008 pelo diretor brasileiro Fernando Meireles.
O autor era um crítico da Igreja Católica. A crítica é mostrada através de suas obras. Em "Caim", o escritor redime o assassino de Abel. Com "Evangelho segundo Jesus Cristo", Saramago humaniza a vida de Jesus, com uma visão antirreligiosa sobre Cristo. Para ele, não se deveria permitir que supostos representantes de Deus na Terra, que só pensam no poder, ofendam a verdade todos os dias.
Saramago afirmou que na verdade, a Igreja não se importava com o destino das almas. Sobre a Bíblia, ele reconhecia as coisas admiráveis, como por exemplo a parábola do semeador. O livro sagrado, porém, seria um "manual de maus costumes", exemplificando com passagens de violência relatados na Bíblia.
Em 1998, Saramago ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, tornando-se o primeiro escritor de língua portuguesa vencedor. Ele também ganhou o Prêmio Camões, o mais importante oferecido a escritores de língua portuguesa.
Desde 76 ele vivia exclusivamente do seu trabalho literário e entre outros livros estão os romances: O Ano da Morte de Ricardo Reis, (1984), A Jangada de Pedra, (1986), Ensaio sobre a Cegueira, (1995), Todos os Nomes, (1997), e O Homem Duplicado, (2002); a peça teatral "In Nomine Dei", (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos "Cadernos de Lanzarote" (1994-1997).
*"Saramago era um homem lógico", segundo diretor Fernando Meirelles
Morte já foi tema do autor
A morte também já foi tema de obra do escritor. Ela é ressaltada em "As intermitências da morte", em que o autor faz uma reflexão sobre como seria se ninguém mais morresse. Dessa maneira, ele apresenta conflitos e problemas dos que não morrem, mas não têm a vida de antes. Em determinado momento do livro, a morte envia carta a uma emissora de TV explicando seus motivos, e informando que voltará, mas de maneira diferente.
Veja uma lista de romances escritos por Saramago
"Terra do pecado", de 1947
"Manual de pintura e caligrafia", de 1977
"Levantado do chão", de 1980
"Memorial do convento", de 1982
"O ano da morte de Ricardo Reis", de 1984
"A jangada de pedra", de 1986
"História do cerco de Lisboa", de 1989
"O Evangelho segundo Jesus Cristo", de 1991
"Ensaio sobre a cegueira", de 1995
"Todos os nomes", de 1997
"A caverna", de 2000
"O homem duplicado", de 2002
"Ensaio sobre a lucidez", de 2004
"As intermitências da morte", de 2005
"A viagem do elefante", de 2008
"Caim", de 2009
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