sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A confusa história do “2º objeto”


Não sou perito, muito menos dono da verdade, mas tem muita coisa mal explicada nesta história do objeto não-identificado que atingiu José Serra.

O Jornal Nacional, agora à noite, com uma imagem feita pelo celular de um repórter da Folha de S.Paulo, mostrou que um segundo objeto teria atingido Serra na caminhada de ontem no Rio, além da bolinha de papel, amplamente divulgada pelas imagens do SBT.

Só que a imagem registrada em celular, ao contrário da exibida pelo SBT, não é dinâmica e não nítida o suficiente para identificar o objeto, mostrar sua trajetória, seu impacto e se foi rebatido como a bolinha de papel. A dimensão do objeto seria bem pequena, também, o que pode ser avaliado comparando-se o seu tamanho na imagem com o da orelha do candidato. Ao contrário do que ocorreu com a bolinha de papel, Serra não se preocupa em verificar que objeto o atingiu.

No vídeo original gravado pelo celular do repórter da Folha de S.Paulo e disponível no UOL, percebe-se que a imagem congelada exibida pela TV Globo coincide com a que se vê aos 6 segundos. E que depois dela, Serra não dá o menor sinal de que tenha sido atingido por qualquer objeto. O tucano continua caminhando normalmente e só depois, após desaparecer da imagem, ressurge com a mão na cabeça.

A Globo recorreu ao perito Ricardo Molina, que afirmou que as ações aconteceram em momentos distintos, o que não era difícil de perceber, mas não há elementos suficientes no quadro congelado que permitam concluir que se tratava de um rolo de fita crepe, principalmente do tamanho do exibido pelo perito. A imagem mostra um objeto muito pequeno, que em proporção ao tamanho da cabeça de Serra estaria mais para um pequeno rolo de fita durex.

A análise do perito sobre o choque do objeto contra a cabeça de Serra também conflita com o que o médico Jacob Kligerman disse sobre o atendimento que prestou ao tucano. Molina afirma que o segundo objeto atingiu Serra na região “frontal superior”, enquanto a suposta bolinha de papel na traseira da cabeça. Kligerman disse que a área atingida, segundo a queixa de Serra, já que não havia ferimento algum, foi a occípito-parietal, que fica justamente na parte posterior do crânio, a popular “nuca”, não na região frontal superior, onde Molina diz que a bolinha bateu e não onde o segundo objeto o teria atingido. As duas declarações estão no vídeo acima. Repare também que a cena onde, depois, Serra coloca a mão na cabeça, ele a coloca na parte do alto, ao centro.

A TV Globo, presente ao evento de ontem no Rio não registrou nem a bolinha de papel e nem o suposto segundo objeto que teria atingido a cabeça de Serra. Com a pouca nitidez da imagem feita por celular, é possível dizer qualquer coisa. É importante lembrar que a TV Globo foi a única emissora chamada para ouvir José Serra quando ele deixou a clínica na qual foi examinado, com a própria matéria do SBT registra.

O Estadão afirma que o vídeo do SBT não mostra o momento, acompanhado pela reportagem do jornal e registrado em fotos, em que Serra leva a mão direita à cabeça e, amparado por um segurança, é levado até a van da campanha. Mas ressalta que “nenhum objeto que pudesse ter sido arremessado contra Serra foi captado nas imagens ou visto pela equipe de reportagem”. O Estadão também registra que a van andou apenas 100 metros com Serra dentro dela, e que Serra voltou a fazer campanha na rua em seguida.

Nem o UOL, do grupo Folha, diz que as imagens são nítidas para definir o que aconteceu e não atesta o momento exato da gravação, informando que nenhum objeto foi recolhido.

O problema maior foi não ter acontecido, como defendi desde cedo aqui, um registro policial do caso, com abertura de inquérito. Em vez de suposições, haveria evidências. Evitaria a exploração política que está sendo feita do caso.

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